As borboletas estão em extinção.
Tão lindas, com suas asas coloridas, traçando arabescos pelo ar.
Mas frágeis, tão frágeis quanto papel molhado. Sem presas nem ferrões sem veneno nem garras afiadas.
Completamente indefesas.
Mas então eu a vi, daquele tipo comum, amarelinha. Simples e maravilhosa como toda criação de Deus.
Bem ali, quase ao alcance das mãos, batendo suas asas ao redor das plantas da minha varanda.
Fiquei observando, quase espionando seu passeio, seu vôo alegre, sem compromisso, trazendo apenas alegria a minha tarde.
Foi lentamente desaparecendo, entre subidas, descidas e volteios, voando rua abaixo.
Fiquei pensando nos breves momentos de felicidade que a vida nos oferece, tão efêmeros que muitas vezes os deixamos fugir.
Talvez sejam os mais especiais, talvez por estar meio escondidos, por não serem tão óbvios, precisando ser olhados sob outros ângulos.
Ao longo da vida vamos nos acostumando a pressa e a rotina, perdendo momentos preciosos que, se soubéssemos aproveitar, alimentariam nosso ânimo, nos protegendo da depressão, do pessimismo, de dores e tristezas que poderiam nem existir.
Fui retirada de meu lugar comum, ao lado de milhares de pessoas comuns como eu, para repentinamente me tornar uma espectadora especial, enxergando, agora, sob um novo ponto de vista.
A impossibilidade de me locomover e de executar qualquer movimento me ofereceram um presente inimaginável: saber olhar atentamente, poder captar cada movimento, conseguir perceber cada vibração, aprender a ouvir nas entrelinhas, fechar os olhos e sentir no toque da pele a incrível sensação de compreender aquilo que não precisa ser dito.
Foi um presente especial. E agradeço a Deus por ter conservado meu coração livre de qualquer revolta. Tenho certeza de que não haveria espaço para aceitar seguir pelos novos caminhos que a vida me impôs se tivesse deixado o inconformismo tomar conta de mim.
Minha borboleta voltou, mais amarela que o sol.
Passou por mim planando leve como a brisa que soprava.
Sorri feliz! Meu dia estava completo.
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