Retrospectiva
Final de ano, época de reflexões.São retrospectivas, resumos dos principais fatos do ano, revisões contrapondo erros e acertos.
Cenários são revisitados, situações são expostas e re-expostas dezenas e mais dezenas de vezes, revivendo o mesmo sofrimento.
É uma batalha perdida, o saldo é sempre negativo, o resultado nunca nos satisfaz.
Numa retrospectiva onde misturamos culpas, ações e intenções nos deixamos levar pela melancolia.
Foi sempre assim e assim permanecerá.
Então, num súbito embalo de ânimo começamos a traçar novos planos.
Planos, assim os chamamos quando são possíveis de realizar.
Já quando são grandiosos e de difícil compreensão para a pequenez da alma humana, então os chamamos de sonhos.
Mas se dão errado e se embaralham, perdendo a razão de ser, então os chamamos de ilusões.
Perdida entre sonhos, planos e ilusões, vagando solta entre os fios soltos do passado, divagando sem amarras entre as luzes distantes do futuro, ultrapassei as fronteiras do tempo, percebi que perdera a hora.
De volta do futuro, fui obrigada a encarar o relógio.
De repente me encontro sozinha, perdida entre as areias douradas daquele deserto infindável que giravam ao meu redor, naquela dança insinuante e traiçoeira que tentava me soterrar.
Aquele deserto particular do qual tornei me refém e companheira, que me cerca e me persegue, que me cobra ser fiel e exclusiva, na alegria e na tristeza, todo dia e para sempre, amem...
Não sabia ao certo se queria mesmo encarar tudo aquilo.
Todos os tipos de por quê rondavam meus pensamentos, por que eu? Por que justo comigo? Por que neste momento e não em outro qualquer? Por que desta maneira tão rápida e agressiva? Por que me perguntar por quê? Onde estavam as respostas? E as pessoas, certas pessoas que de tão certas agora pareciam tão erradas desde sempre?
Onde estavam as perguntas certas? Os amigos certos? Onde estavam as respostas? Quem era dono delas?
Dentro de mim um silêncio tão grande se acomodava que ate a mim assustava, eu que o amava tanto, agora começava a temê-lo. E se ficasse para sempre, me deixando muda?
Muda e imóvel, como uma estátua de pedra, ou pior, de areia, bela, muda e imóvel, porém frágil, suscetível ao menor movimento dos ventos.
Será que estava mesmo em busca de alguma resposta?
Se não me satisfizessem o que faria com elas?
Melhor começar a cantar.
...às vezes você me pergunta por que é que estou tão calada...
...eu nasci há dez mil anos atrás...
Ah! Raul, onde está você que sumiu com as respostas?
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