sábado, 21 de novembro de 2009

Carta para um jovem Pedro

Pedro,

Fiquei conhecendo um pouco de sua história hoje. Claro, só me contaram a parte dramática, aquela que choca a todos que a ouvem: um garoto de dezoito anos com toda a vida pela frente, com toda uma história a escrever, súbitamente mutilado, impedido de viver quantos de seus sonhos...
Não tenho idéia de quem era Pedro antes de tudo isso acontecer. Também não tenho idéia de quem será Pedro a partir de agora.
E quando comecei a pensar no que dizer a você, atolei num branco total.
Falar em superação? Só de pensar me dá vontade de vomitar. Quem fala em superação muitas vezes não tem idéia do que significa esta palavra na realidade. Para superar grandes problemas é preciso antes superar a nós mesmos, nossos medos, nossas inseguranças. Temos que matar alguns sonhos, e aprender a conviver com nossos pesadelos. Temos que superar a raiva, o ódio e a revolta. Que sentimentos virão no lugar destes? Não sei. Só sei que superação me parece uma palavra vazia e sem sentido se comparada ao tamanho deste desafio.
É verdade, Pedro, todos os seus dias serão de desafios, todos eles serão cansativos, alguns deles serão de derrota, mas muitos, muitos deles serão de vitória.
E é aí que se encontra a grande diferença, não devemos esquecer dos dias ruins, das perdas e fracassos, dos objetivos não atingidos. Ao contrário, devemos usá-los como combustível para seguir em frente testando novos projetos, perseguindo novas conquistas.
Escolha suas armas, você irá para a guerra!
A história é sua, construa seu personagem, você decide cada passo, quando atacar e quando recuar.
O prêmio nessa guerra é a vida.
Vida para viver.
Cada soldado, ao entrar no campo de batalha, já fez a sua escolha.
E a escolha é viver.
Viver intensamente cada dia. Optar pela felicidade, não amanhã, mas hoje, agora.
O destino lhe deu um tapa na cara, passou uma rasteira, o que fazer?
Morrer aos poucos, sucumbindo lentamente, envenenado por doses diárias de amargura e inconformismo, cessando de existir, ignorando que a força maior que move o Homem é o pensamento?
O corpo é o templo do espírito.
E daí se o corpo estiver destruído?
Se o espírito for firme e a alma nobre, sobreviverão debaixo de escombros, habitarão ruínas, sem jamais fraquejar.
Eu também fui abatida.
Fui derrubada, fiquei sem chão e sem céu. Só sentia o frio e a solidão.
Mas minha alma nasceu para ser livre. E meus pensamentos não aceitam ser aprisionados.
Não sabemos o porquê dos acontecimentos da vida, só Deus poderá nos responder um dia.
Até lá só podemos nos perguntar: para quê?
Portanto Pedro, quando tiver vontade de gritar, grite mesmo, bem alto e bem forte, mas grite uma mensagem que faça diferença para o mundo.
Você verá que somos especiais, a experiência que a vida nos faz viver é algo muito além do que qualquer pessoa possa imaginar.
Você pode ter medo, se apavorar, pode querer fugir e fechar os olhos, fingindo que tudo não passou de um pesadelo.
Pode e deve chorar, mas não se desespere, não vire o rosto para as coisas boas da vida, não abra mão do que lhe dá prazer, descubra novas maneiras, novos jeitos de fazer as coisas, abra o seu leque de opções.
E acima de tudo, nunca mas nunca desista de sonhar.
Mesmo que para isso seja preciso enfrentar sozinho um exército todos os dias.

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