sábado, 10 de outubro de 2009

Sábado no shopping

Sábado de manhã, saio para passear, como de costume.
Grata surpresa, procurando por uma vaga para deficientes constato que todas elas estão ocupadas. “Nossa,” penso, “então essa deve ser a hora em que todos saem para passear.”
Fico animada, finalmente poderei me orgulhar de meu país, de nossa civilidade, do respeito ao próximo, e de todo aquele blábláblá sobre inclusão social.
Depois de tanto procurar, encontro um lugar razoável para estacionar. Depois de todo o processo de tirar a cadeira do porta malas, montá-la, ajustá-la, encaixar os apoios dos pés, que nunca ficam iguais, estou finalmente pronta para a ultima leva de ajustes. Não pensem que durante esse processo alguém me ofereceu ajuda. Afinal, lembrem-se: não estou numa vaga própria para cadeirantes, o que significa que eu, meu marido e as duas enfermeiras que me acompanham estamos invadindo um pedaço da vaga ao lado. E é claro que nestas horas a lei que vale é a lei de Murphy, então há um carro esperando para entrar na bendita vaga ao meu lado.
É impressionante constatar o olhar de indiferença que certas pessoas conseguem fazer. Olho de rabo de olho, pois tenho certeza que nos próximos segundos alguém do carro vai olhar no relógio começando a demonstrar sinais de impaciência. Dito e feito! A expressão do olhar agora é outra, é algo como: bom agora já deu... E os dedos do motorista começam a tamborilar sobre o volante do carro. Imagino que a esposa nessa altura esteja dando palmadinhas na perna do marido dizendo: Calma, meu bem.
Então flagro um encontro de olhar entre os dois, como se consolando mutuamente.
Esquece o casal, com seus filhos já grandes no carro, que provavelmente causaram o mesmo transtorno para os demais no processo de retirada de um carrinho de bebê, juntamente com toda a parafernália necessária para um dia no shopping. Porém todo bebê é fofo, atraindo sorrisos simpáticos e olhares compreensivos. Finalmente acomodada em minha cadeira saio alegre do elevador, coração acelerado antecipando a satisfação de encontrar as pessoas que, como eu, não se escondem em casa esperando a vida passar.
Porém, corredor após corredor olhando por entre as pessoas e investigando no interior das lojas, não vejo sinal algum de cadeirantes, nem de pessoas com necessidades especiais. Mas penso: e as trinta vagas especiais, todas ocupadas... Por quem? Meu marido olha em duvida para mim e pergunta:
- O que você disse?
E eu respondo, entre assombrada e indignada:
- Não disse nada, estou só pensando alto...

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